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Sobre livros, história da arte, Fortaleza e ódio sem motivo


Livros nunca foram referências para a formação do meu pensamento. Em uma escala de fontes de informação, o livro deve ocupar o terceiro ou quarto lugar. O motivo é simples: não gosto de ler. E não tenho vergonha ou pudor de dizer isso. Quando eu era criança e não conseguia ler os livros que o colégio receitava eu me sentia um imbecil. Quase sempre questionava: por qual motivo não pedem para ver um desenho animado? Não consigo me concentrar nas palavras e não me sinto emocionalmente envolvido. A imagem sempre foi meu maior foco de interesse. E não me venham dizer que livros também são visuais...Claro que essa minha birra com livros compromete minha escrita e leitura. Até hoje sou péssimo com as regras gramaticais. Nunca sei onde colocar uma vírgula. Porém, não me sinto defasado intelectualmente com relação a uma criatura que devora 8 livros por mês. Estou muito satisfeito com o conhecimento adquirido no cinema, na música e na Internet.

Escrevi tudo isso para finalmente falar bem de um livro (!). Quando estamos no campo acadêmico você tem apenas uma opção: ler os livros. Sendo assim, faço um esforço descomunal para ler um ou dois títulos de grandes teóricos. Dou meu jeitinho lendo mais artigos do que obras completas, mas ainda assim é um processo doloroso.

Nessa luta contra os livros, cheguei até “O fim da história da arte”. Hans Belting fica na linha tênue que separa os teóricos picaretas e exagerados dos teóricos geniais e provocadores. Belting me fez ter tantas dores de cabeça nesses últimos dias como nenhum teórico causou. Se eu já tinha os meus questionamentos raquíticos e sem fundamentação sobre a história da arte, o cara conseguiu trazer ainda mais problema para os dois lados do meu cérebro. Belting não tem o academicismo exacerbado de Argan, nem a chatice metódica de Gombrich.

O autor critica museus, historiadores, público, artistas e ele mesmo. Tudo com uma dose cavalar de veneno e excesso. Sempre gostei de teóricos catastróficos e exagerados. Acredito que através de um pensamento que extrapola os limites do plausível podemos chegar a um conceito e idéias razoáveis.

No caso da história da arte, em que tanta gente já falou tanta coisa sem novidade, Hans Belting é uma benção, sacudindo toda a instituição artística. E se alguém sair da leitura de “O fim da história da arte” sem pelo menos uma ou duas pulgas atrás da orelha, faça como eu: esqueça os livros e vá ao cinema.

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Segundo o Wikipedia, Fortaleza tem 313,8 km² de área e 2.473.614 habitantes. Um erro. Na verdade, a população de Fortaleza não passa de 250 pessoas e sua área não deve ser maior do que poucos 20 km². Eu, por exemplo, encontro sempre com as mesmas pessoas no meu ônibus e meu limite territorial não passa de um corredor que liga a minha casa ao Benfica. Ou seja, nossa cidade é um vilarejo, quiçá um condado.

Porém, não estou aqui para contestar os dados imprecisos do IBGE. Estou aqui para fazer um mapeamento (utilizando meus dados imparciais) dos grupos ideológicos existentes em nossa nanica cidadezinha (assim, bem pequenininha).

Divido a cidade em 5 grupos muito bem definidos: Aquele-povo-que-usa-sandália-de-couro, Aquele-povo-que-pensa-que-mora-em-londres, Aquele-povo-que-vai-pra-balada, Aquele-povo-que-não-frequenta-a-regional-2, Aquele-que-está-em-todos-os-lugares.

De hoje em diante, cada post virá com a descrição de um dos grupos. Hoje vamos começar por...

Aquele-povo-que-usa-sandália-de-couro

Onde encontrar: No centro de humanidades de qualquer universidade pública, em um “bar derrubado” (mas não um bar derrubado da periferia. Tem que ser ali pelo Benfica ou adjacências. Sabe como é... a periferia é tão longe...) ou em uma festa com cultura nordestina de raiz.

Do que gosta: Chico Buarque na terra e no céu, uma coisa MPB assim anos 70 – Gal, Bethânia, uma coisa MPB assim bem cult – Tereza Cristina ou Oswaldo Montenegro, uma banda de pífano do Juazeiro, qualquer banda com sotaque de Juazeiro, qualquer grupo artístico que tenha as palavras “trupe”, “brincantes” ou “cordão”.

Programa favorito: Fazer uma ciranda bem bonita com gente de todas as cores, todos os credos...

Diálogo:

- Bob?
- Quem? O Marley?
- Tu curte?
- Prefiro Zé Ramalho
- Bóra comprar um vinho?
- Eu vou é fumar um gudang...

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Que banda chata é essa “Cérebro Eletrônico”? E lá estão os jornalistas culturais querendo transformar eles na nova coisa mais cult do mundo. “A substituta do Los Hermanos”. Eles são muito inventivos e usam brinquedos para produzir sons em algumas canções – Nossa! Que criativo! São os novos Beatles...Jesus, deviam trancar eles e o Teatro Mágico em um quarto por toda a eternidade. Deixar eles discutindo quem é a banda mais cool, intelectual, bacaninha e chata do país. Deviam colocar a banda do Junior Lima para tocar lá dentro. Talvez eles se matassem em uma ou duas semanas.

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Hoje estou com ódio de nada. E não existe nada pior do que odiar quando não há ninguém ou nada para culpar.

Prometo voltar mais feliz da próxima vez. Vou comer muito chocolate antes de escrever qualquer coisa.

Se você conseguiu ler tudo que eu escrevi até aqui, PARABÉNS! Você deve ser uma dessas pessoas normais que adora ler livros ou simplesmente não tem nada melhor para fazer. Será que alguém anda nesse blog?

Abraços aos meus leitores imaginários!

Tchau!