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Sobre o cinema matemático de Aronofsky

Minha confiança em cineastas não costuma durar muito tempo. Talvez isso seja fruto de minha pouca capacidade de criar laços afetivos com qualquer coisa. Minha entrega inicial logo se transforma em decepção sem volta.

Quase toda a cinematografia de Aronofsky parece fruto de cálculos matemáticos precisos. E embora a racionalidade esteja sempre em maior evidência, diante de suas obras ainda somos colocados dentro de um jogo de sensações nada exatas.

Pi talvez seja uma metáfora sobre a própria carreira do diretor. Um alucinado perfeccionista, detalhista e obsessivo em busca de uma fórmula que explique a vida. No caso de Aronofsky, a busca pelo cinema milimetricamente perfeito.

A fórmula de Darren Aronofsky é arriscada. Uma dose mínima que extrapole o estabelecido na tabela pode causar erros detestáveis: A Fonte da Vida. No entanto, quando todos os ingredientes são adicionados precisamente, temos o cinema matemático e perfeito de O Lutador.

Alguns podem odiar o filme, mas poucos conseguirão apontar o porquê. Os defeitos talvez estejam lá, mas pouco visíveis. Aronofsky consegue criar uma obra que não é perfeita, mas que não deixa seus erros e equívocos perceptíveis. Tudo está colocado em seu lugar: luz, câmera (as movimentações mais delicadas de sua filmografia), trilha sonora, atuações, edição. Não conseguiria apontar um só defeito.

A câmera, quase sempre na mão, só sai de sua discrição quando as lutas exigem uma agressividade um pouco maior nos planos. O que pouco acontece. E como é belo o "contra-luz" de Aronofsky. Como é bela a canção de Bruce Springsteen...

Sei que não é o seu melhor trabalho, mas não sei os motivos que o coloca inferior a Pi, por exemplo. Continuo confiando em Darren, embora o meu ímpeto de descrédito e desprezo sempre entre comigo na sala de cinema quando vou assistir qualquer obra sua. Maldito Aronofsky!