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Justa causa



Decidiu-se então pela aposentadoria. Cansou do mamoeiro tomado pelo fungo, da velha gata castrada, do rádio pouco equalizado e do mofo do armário em mogno legitimo. Solicitou que a mesa posta fosse imediatamente recolhida. A porcelana grega, os talheres de trato vagabundo, o vinho colombiano de safra esquecida. Encaixotou-se tudo. “Garfos e facas nas caixas menores, senhorita!”. A secretária titubeou em retirar a toalha em bordado inglês, o que foi prontamente repreendido com um sussurro: “Eu disse tudo, querida.” A gata fora convidada a passear na rua para nunca mais voltar. O mamoeiro derrubado em ímpetos violentíssimos de machado. Braços e pernas em deleite com o tronco que se despedaçava no ar tal qual fogos de madeira. “O que o senhor fará com o mogno? E com os talheres e porcelanas? Um absurdo deixar tudo assim, esquecido”. Pensou que poderia dar uma resposta aborrecida, mas lembrou-se de que estava se aposentando. “Encaixote, querida. Apenas encaixote...”

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