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Sobre aulas de didática

1. Ciências humanas é uma farsa.

2. Odeio didática.

Pronto. Essas foram as duas coisas que aprendi até agora no meu mestrado. Não agüento mais essa chatice de ter que compreender o pensamento ocidental. Prefiro o pensamento ocidental do Quake 4 e do Mario World ao pensamento ocidental de Nietzsche e Foucault. Só pessoas feias e chatas preferem Deleuze, Chartier, Baudelaire e afins. Eu prefiro o Perez Hilton. Ele sim representa o pensamento ocidental contemporâneo. Prefiro a JK Rowling que, como diz a Raquel Thomaz, assume que escreve ficção. Estou cansado. E não pensem que falo isso por me sentir superior a todos esses grandes pensadores. É justamente o contrário. Sou uma besta estúpida incapaz de ter um pensamento crítico sobre qualquer parágrafo escrito por um grande pensador. E não há nada que me faça ter mais ódio da academia do que a magnífica aula de didática.

Eu sempre digo que há os que gostam de comer fezes durante o sexo, há os que são masoquistas, há os que gostam de Teatro Mágico e há os que gostam de aulas de didática. Na minha sala há uma porção deles. De pessoas que gostam de aulas de didática e muito provavelmente que gostam de fezes e Teatro Mágico. Eu que devo ser masoquista de suportar durante quatro horas (que podem se transformar em 5 dias psicológicos) uma aula cheia de dinâmicas de grupo, discursos cheios de afeto e experiências inesquecíveis.

É duro ter que acordar 7 da manhã para começar o dia fazendo desenhos com canetinha colorida em um papel branco. É doloroso olhar para o rosto dos comedores de fezes e descobrir que todos eles estão maravilhados com essa experiência lúdica. Não amigos. Não fui feito para isso. O que mais me irrita é saber que depois de tantas discussões e afetos todos farão o que bem entenderem em sala de aula.

Eu me sinto um puto na aula de didática. Sinto-me um puto por ter que passar por isso por conta de uma bolsa miséria.

Hoje, senhores, eu sou um puto que sabe pintar em um papel branco e que muito em breve pode estar comendo merda.

Sobre Cidadão Instigado, Recife e Sweet Fanny Adams

O bom de ter um blog que ninguém lê é que nunca vou sofrer com comentários contrários ao que escrevo. Se tem uma coisa que odeio é quem não concorda comigo.

I – Juro que estava aqui tentando buscar argumentos para falar mal do Cidadão Instigado. Esse surto coletivo de elogios ao Fernando Catatau está me causando dias desconfortáveis.

É difícil suportar que o nosso sotaque tosco e insuportável seja jogado em nossa cara. É complicado ter que seguir uma cartilha ou manual de instruções para ouvir uma banda. “Para ouvir Cidadão você deve esquecer métrica, poesia clássica, modernidade, vocal afinado etc etc.” Ou seja: basicamente você deve esquecer que eles são uma banda. E não me venham dizer que o barato são as letras simples e sem frescura poética. Meu caro, você conhece algum grande escritor ou poeta famoso por sua simplicidade? Não, não existe. Nenhum artista é digno por ser comum.

O problema é que lá estou eu cheio de tomates na mão, cheio de vontade de gritar um “Ieiiiii”, cheio de vontade de dizer “mais uma banda cearense horrível”. Daí eles começam a tocar e sinto ódio por não ter argumentos para jogar um tomatinho sequer.

O barato do Cidadão é que eles são em parte o que nós somos. Enquanto quase todas as bandas desse lado do Brasil insistem em acreditar que estão fazendo música em Londres, Catatau faz música em Canoa Quebrada.

Não é fácil escutar “massa” em uma canção. Não é fácil ouvir nosso sotaque agudo e anasalado.

Não adianta. Mesmo o carinha que se veste de Inglês tosco, mesmo o carinha que nunca ouviu falar de Humberto Teixeira e Belchior, mas conhece a obra completa de Tom Waits e Johnny Cash, mesmo esse, irá soltar em algum momento do dia um “abestado” ou um “ei, macho!”. Ser cearense pode ser dolorido para alguns, mas é o que somos.


II – Não sei bem o porquê, mas odeio Recife. Passei carnavais inesquecíveis lá, mas ainda assim odeio Recife. Adoro repetir “Odeio Recife” pra todo mundo. É quase um bordão. A cidade é feia, suja, cheira mal, é menor que Fortaleza (embora todo recifense tenha a ilusão tola que não) e as pessoas não sabem explicar qual ônibus pegar. Apesar dessa minha transcendental rejeição, quase morei em Recife e já estive lá umas 10 vezes. Os mais ousados irão dizer: amor e ódio! Não, no meu caso é a insistência de Deus em me sacanear.

Aos recifenses desavisados que chegarem até aqui, não se importem com o que escrevo. Isso é apenas uma birrinha com um fundo de verdade. Todo mundo tem que ter uma cidade para amar e odiar. Escolhi Recife pela proximidade geográfica e também porque adoro competições tolas que não levam a lugar nenhum.

Posto isso, fui essa semana ver o show da famosíssima Sweet Fanny Adams. Digo famosíssima porque eles já foram selecionados para diversas coletâneas, embora nunca tenha ouvido falar de nenhuma deles. Eles foram inclusive selecionados pela Ultimate Billboard Top Mega Awards e venceram o Massachusetts Fabulous Choice. Com tantos prêmios e reconhecimento internacional não sei o porquê da banda continuar na pequena Recife.

Seria muito simplista acusá-los de apropriação do passado. Eu como um incipiente estudioso das relações passado-presente na arte não poderia cair nessa vala comum. Foda-se se cada música deles lembra alguma outra coisa que nós já tenhamos ouvido. Problema nosso.

Mesmo cantando em inglês a banda mantém suas raízes nordestinas. O que pode ser percebido nas camisas xadrez que eles usam, típicas das tradicionais festas juninas. Digna de nota é também a perfeita chapinha do vocalista. Obra de um cabeleireiro muito inspirado.

Pronto. O Sweet Fanny Adams se juntou ao Cordel do Fogo Encantado e Nação Zumbi dentro da categoria “Coisas de Recife que valem à pena”. E quando eles voltarem aqui, lá estarei eu pulando. Mesmo sem entender uma linha do que o vocalista canta em seu inglês britânico de Sobral. Mas quem se importa? Tem gente que não entende nada que o Catatau canta....

PS: Sim, eu sei que o Cordel não é uma banda de Recife.