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Sobre o mestre Darren Aronofsky

NOTA: texto escrito em 2006. Perdão pelos erros e equívocos. Não mudei nada por respeito ao bruno de quatro anos atrás.

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Darren Aronofsky é estranho. Dos seus experimentos iniciais não podemos destacar nada. Absolutamente nada. Os curtas realizados durante seus estudos em Harvard e no American Film Institute são falhos em quase todos os aspectos. Embora possam gerar algum tipo de riso, não dão nenhum sinal do cinema que Aronofsky faria anos depois: “frio”, matemático e calculado. Nem mesmo o humor sobreviveu. No Time (1994) e Fortune Cookie (1991) são cheios de cacoetes típicos das produções em vídeo das décadas de 70, principalmente as feitas para a TV. E o cineasta parecia não estar muito preocupado em subverter ou reinventar qualquer coisa. Desse ponto de vista, suas produções são completamente descompromissadas.

Não é possível ver uma influência clara nestes primeiros trabalhos. Talvez de alguns vídeos do Norman McLaren, mas são apenas ecos. Como a Protozoa e o próprio cineasta não liberam os outros dois curtas desse período, Supermarket Sweep (1991) e Protozoa (1993), não podemos fazer uma completa generalização. Uma pena não ter acesso principalmente ao Protozoa. Neste vídeo, produzido como sua tese de formatura no AFI, Aronofsky desenvolveu as principais técnicas de filmagem que utilizaria em seus dois primeiros longas.

Para o nosso bem, há dois artistas bem distintos em uma época bem curta. O cineasta parece ter sofrido de algum tipo de envelhecimento precoce que não lhe deu rugas, mas que lhe trouxe sobriedade.

Muitos consideram Requiem for a Dream sua obra-prima. Quando vi este filme pela primeira vez no cinema, em 2001, lembro de ter ficado completamente tonto, destruído e profundamente comovido com as personagens. Hoje o considero um filme menor do que ele me pareceu na época. Aronofsky estava em Requiem testando suas potencialidade e a do próprio cinema. Um risco que poderia causar exageros ou imagens sublimes. E Requiem está recheado das duas coisas.

Para mim, π é sua grande obra. Curiosamente o seu primeiro longa após todos os desastres cometidos em Harvard e no AFI.

Para este filme, Aronofsky contou com a forcinha de amigos que dividiram os custos de produção em troca de um reembolso posterior. Deu certo. Os amigos foram reembolsados e Aronofsky saiu consagrado no Sundance Film Festival.

“π” equilibra perfeitamente a inquietação de um cineasta novato tentando (apressadamente) construir um estilo próprio e a sutiliza que compete aos mestres com anos de estrada. A tal hip-hop montage e a snorricam são usadas de forma bem menos artificial que em Requiem e a fotografia de Matthew Libatique consegue a proeza de criar locações externas claustrofóbicas, usar a saturação de imagens de forma criativa e planos improváveis que fogem da estética dos vídeos clipes, o que seria uma banalidade.

No início de “π”, Max Cohen narra um suposto trauma de infância:


“Quando eu era criança, minha mãe disse para não olhar para o sol. Mas quando eu tinha 6 anos, eu olhei. Os médicos não sabiam se eu voltaria a enxergar. Fiquei apavorado, sozinho naquela escuridão. Devagar a luz do dia penetrou através das ataduras e consegui vê. Mas algo mudara dentro de mim. Naquele dia tive minha primeira dor de cabeça.”


Ao final do filme, quando Max tem finalmente a consciência do real significado da seqüência numérica descoberta, é levado a um cenário completamente tomado por uma luz branca. Lá, tem finalmente a consciência da sua própria estrutura. Olha novamente para o Sol (Deus). Cega. Definitivamente, algo mudara em Max. Definitivamente, algo mudara em Darren Aronofsky.

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NOTA Posterior:

Continuo achando π o melhor trabalho de Aronofsky, mas tenho muita simpatia por O Lutador, um salto gigantesco após Fonte da Vida, o filme que não deu certo.

Muitos temerosos e raivosos com sua direção em Wolverine 2. Darren já deveria ter dirigido uma obra baseada em quadrinhos desde os boatos sobre Ronin e Batman... Apesar de fazer parte do time dos que detestaram a idéia, ainda acredito que o diretor tem talento suficiente para nos surpreender.

PS: Porra, Darren! O que tu fez com a Rachel Weisz? Era a Rachel Weisz, cara....




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