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José

Sou publicitário por indecisão, professor por gosto, cineasta desestimulado por aborrecimento, bêbado por conveniência e besta por genética. No final das contas foi tudo escolha minha. Meio que fui tentando a sorte. Todo mundo passa os anos jogando “par ou ímpar” com a vida. Não havia como ser diferente.

A única coisa que me fugiu, e ainda foge ao controle, são meus nomes. Nasci José por promess...a. Cresci Bruno por erro. Fiz-me Zé pelos amigos. Junior por parentes confusos.

O primeiro José estava para nascer em 1982. Foram tantos traumas vividos por mamãe que José I só chegou ao oitavo mês. Médicos alertaram para os riscos de uma nova gestação, mas a teimosia da Dona Elza não a deixou desistir. Foi aí que a família recorreu ao pai do menino Deus e José virou meu santificado primeiro nome. Como na música do Tiririca.

José é um desses nomes carentes. Mais do qualquer João ou Joaquim, José sempre fica choramingando pedindo um Carlos ou um Tiago para lhe completar. Por conta disso, houve uma batalha criada com lista de trezentas combinações de José com qualquer coisa. José Felipe, José Henrique, José Afonso, José Astrogildo. Mãe e madrinha votaram. Com placar apertadíssimo de 2 x 0, José Bruno ganhou.

Por descuido da madrinha e pressa da Dona Elza virei um adjetivo. Sim, senhores! Bruno é um adjetivo. Vejamos: “bru.no: adj (frâncico brûn, via provençal bruno) 1 Escuro, sombrio. 2 Pardo. 3 Infeliz”. Você pode aplicar Bruno em frases como “Ela está meio Bruno hoje” ou “o dia está Bruno em Fortaleza”. Aí eu lhes pergunto: que tipo de mãe colocaria o nome do seu filho de Bruno? Resposta: a minha. A minha e de todos os Brunos que conheço.

Passei anos rejeitando meu próprio nome. Eu, ser tão empenhado em ser do contra, com o nome mais popular do país gritando no meu RG. Até que mudei um pouco a perspectiva. De alguma forma a vinda do primeiro José foi abortada para que eu tivesse a oportunidade de estar aqui. Alguém lá em cima deve ter chegado à conclusão de que eu precisava mais. E eu não consigo ver honra maior. Foi então que decidi me empenhar na tentativa de ser o melhor José do mundo dentre todos os 5 milhões de Josés do mundo. Meu irmão Zé que jamais nasceu precisa ser honrado. Sobre o Bruno, quem se importa com a porra de um adjetivo?

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